Regina Célia é escritora, formada em Letras, membro da AMULMIG _ Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais, autora dos Livros Gangorra e Ad versos, alem de crônicas publicadas em jornais e em posts.

sábado, 4 de junho de 2011

As asas da liberdade*


Liberdade! Uma palavra que mesmo sem nos apercebermos a vemos ligada, diretamente, a um par de asas. Asas de pássaros, de Pégasus, de anjo, de joaninhas e besouros, de borboletas! Sim, de borboletas! Quão frágil e bela criaturinha se vê livre em meio às perfumosas flores.

Certa vez, Vovó Nhanhá contou-me a "origem da borboleta" para explicar a metamorfose da lagarta. "Um dia, estando a filhinha de uma feiticeira poderosa a passear pelos campos e florestas, pisoteava lindas e frágeis florzinhas sem nem mesmo observar o que fazia. Ela não tinha intenção de estragar as plantas, apenas não se importava em ter cuidado. Foi quando uma flor diferente, de um colorido raro e um perfume forte, ao perceber a aproximação da menina temeu ser pisoteada sem o direito de se defender e praguejou contra a vida, reclamando por estar presa ao chão pela raiz, dizendo que gostaria de ser livre e poder optar em ficar ou não naquele local. Queria ir e vir quando assim bem entendesse. Por um momento deus se entristeceu, pois gostava das flores e as queria feliz, como que a toda criatura sua.

No ímpeto de sua fúria, a florzinha reuniu todo o seu pólen e o lançou, como num sopro no rosto da garota, que por incrível que pareça, havia notado a exuberância daquela flor e se baixou para cheirá-la. A menina, com os olhos ardendo, saiu correndo e pedindo a ajuda da mãe, pois não conseguia parar de espirrar, fato esse que durou três dias.

A feiticeira, revoltada com o atentado da florzinha, decidiu que não queria mais nenhuma flor pelas bandas de sua casa. Após preparar uma poção mágica, transformou em lagartas todas as flores das plantas que via. Ao ver a sua obra, ria-se feliz pela vingança.
Deus, por sua vez, misericordiosamente, transformou as pobres lagartas em borboletas, dando-lhes, por fim, a reclamada liberdade de ir e vir, possibilitando-lhes aproximarem-se das flores e conviverem com elas, que eram meio que parentes da nova espécie criada."

Origem ou lenda, a liberdade passou a integrar a imagem de um par de asas, tornando-se o sonho dos homens - que não têm raízes presas ao chão -, o sonho de Ïcaro... ter asas, voar... Mesmo que em asas de aço, voar num avião, seguir o pássaro que voa... Dormir na lua... Reencontrar Teteca.

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*Texto recuperado. Escrito e publicado por mim em algum lugar e tempo passados. Atualizado para o blog.

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