Regina Célia é escritora, formada em Letras, membro da AMULMIG _ Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais, autora dos Livros Gangorra e Ad versos, alem de crônicas publicadas em jornais e em posts.

sábado, 4 de junho de 2011

Caminha Zé Antônio*


Os muito mais jovens, por favor, me perdoem, mas aqueles que há mais de trinta anos conhecem as ruas e as pessoas de Barão de Cocais, provavelmente se lembrarão das muitas - mas muitas!- figuras históricas que passaram por esta terra... Faça uma breve pausa. Um momento de introspecção...

Lembra-se de " João Mata- Cobra" e da " Maria Funicida"? É Funicida mesmo, numa alusão à "Formicida": preparo utilizado para matar formigas... Esse apelido lhe foi conferido quando, por descuido ou obra do acaso, pisou em um formigueiro e, diante do impiedoso ataque das formigas, num acesso de fúria, atou a pisotear todas quantas lhe apareciam na reta, a qualquer hora, em qualquer lugar... chamaram-na, pois, "Maria Funicida". Pois bem, lembra-se de João Mata- Cobra e da Maria Funicida ? Eu me lembro!

Lembro-me da velha casinha de sapé na antiga rua Belo Horizonte, indo em direção ao bairro Leão XIII, onde, às vezes, eu imaginava morarem São José, Nossa Senhora e o menino Jesus... Era a outra, no entanto, a trindade lá residente. Naquela casa morava um casal que, ao que me consta, foi agraciado com o nascimento de um menino a que deram o nome de José Antônio.

Lembro-me dos cabelos sararados de Maria... sua pele muito preta e reluzente, cuidadosamente lustrada, parecendo encerada... Maria sempre seguindo o João, seu amigo, amázio, marido,namporido sei lá...

João ia à frente. Um galho de árvore à mão, quase da sua altura, que, às vezes era bengala, para amparar os predicativos debilitados adquiridos pelo avançar da idade e, por outras, era como um cetro de rei, impondo-lhe um andar austero e imperativo. Não sei quantos anos tinha, mas por certo não era novo. Na boca, nem um dente lhe dava o ar da graça... os cabelos eram todos branquinhos (até os das sobrancelhas!) e uma magreleza de fazer inveja à faquir! Ah, o detalhe que não poderia passar despercebido: As calças. Sempre amarradas com imbira.

Atrás seguia o pequeno Zé Antônio. Que será feito dele hoje, com seus 40, 41 anos? Terá, por ventura, compreendido a lição de vida ensinada por seus velhos pais? Não havia sequer uma vez que passassem, a passos largos, João Mata-Cobra e Maria Funicida, sem que se ouvisse o dueto:
Ela: "Caminha Zé Antônio! ( Com a voz aguda e alta)
Ele: "Caminha! Caminha!"(com a voz rouca e baixa)

E Zé Antônio seguia a vida a tropeçar em pedrinhas (ás vezes nem tão pequenas) na tentativa de alcançar e acompanhar os pais, que continuavam a lição diária: Caminha Zé Antônio! (...) Caminha, Caminha!(...) Caminha Zé Antônio! Caminha!

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*Texto recuperado. Escrito e publicado por mim em algum lugar e tempo passados. Atualizado para o blog.

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