Regina Célia é escritora, formada em Letras, membro da AMULMIG _ Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais, autora dos Livros Gangorra e Ad versos, alem de crônicas publicadas em jornais e em posts.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Expiação


O céu de estrelas cintilantes pode nos levar a sonhos, pode nos levar ao encantamento e pode nos levar ao completo êxtase contemplativo. Esse é o céu de pós chuva numa noite de verão de Barão de Cocais. A lua não apareceu... É muito nova pra sair a essa hora de quase completa solidão, alguns boêmios que não se percebem sós, pois conversam com alguém que não vemos, passam inertes àquela pequena luminosidade piscante nas alturas. O cigarro é um companheiro e tanto nessas horas em que assistimos ao nada na mais profunda exaustão do tédio.

Só assim mesmo para terminar o dia depois de driblar contra o vento sul desde a manhã. Tenho um amigo que se refere a esse tipo de dia dizendo que levantou com o pé esquerdo. Mas, graças a Deus! Penso nessas horas. Levantar sem ele seria pior! Hoje, no entanto levantei com os dois pés virados para trás. Era a própria versão feminina do Curupira! Meus cabelos acordaram muito antes de mim e estavam todos de pé. A empregada não apareceu pra trabalhar, o pão na mesa do café era amanhecido e a manteiga tinha acabado no purê de batatas de ontem. A ração dos cachorros também se rendeu ao fim e a água da Copasa foi interrompida por causa das obras de infra estrutura que estão sendo feitas na minha rua.

Nada há de tão ruim que não possa piorar, não é mesmo? Assim ocorreu então no serviço. Deu tilt no sistema, a net entrou em manutenção de emergência, a procuradoria jurídica deu pau na minuta da defesa elaborada para sustentar a defesa de um projeto, o estagiário faltou ao serviço, um desprivilegiado de bom senso resolve reclamar porque apareceu na foto de m um jornal de olhos fechados, a outra, ao contrario, que espirrou de olhos abertos quer o meu anel que imita águas marinhas, mas que fora comprado na loja de R$1,75. A vizinha desorientada resolve brigar com o filho pelo celular, mas todos os companheiros são obrigados a escutar, até quem esta do outro lado da rua. Enfim, um cheiro bom de café lembra que nem tudo está perdido. Pura ilusão! O café está fraco e doce. As principais operadoras de celular estão sem sinal, menos uma, é claro. Claro também que ninguém usa essa operadora, exceto o plano corporativo do serviço.
O dia parecia interminável. Era capaz de chegar as 20 horas, mas as 18 não chegavam nunca. Quantos aborrecimentos ainda por vir...

Mas a noite chega e com ela a calmaria típica de mares turbulentos. Por cima mansidão, por baixo o perigo.

Estrelas piscando uma após a outra. Cigarro aceso um após o outro. Bêbados que falam sozinhos. Cachorros que passam devagar... Nenhuma janela espia!

ETA vida besta, meu Deus! Já disse outrora o velho Drummond a respeito de “Uma cidadezinha qualquer”, mas é claro que não se referia a Barão de Cocais , que não é uma cidadezinha qualquer...

2 comentários:

  1. hoje foi um desses dias. Vida besta, dia besta... Por que o carnaval tinha que acabar?

    Angela Campos

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  2. Porra! Caralho! Esse foi exatamente o meu dia. E nao foi em Barao de Cocais. Mas a terra de Drummond nao está longe da sua cidade e aqui, realmente a vida é besta.Só que as janelas espiam; aliás, tudo espia!

    Cristiano Pena - Itabira-MG

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